ESTUDO DE CASO LATCC
Sexo feminino, 50 anos, divorciada de seu segundo casamento. O filho mais velho (F. 34 anos) morreu de câncer, 15 dias antes dela procurar psicoterapia. "A avaliação inicial evidenciou que a paciente sentia culpa com relação à morte do filho e que era emocionalmente dependente dele, além do fato de que o sofrimento intenso, a alta desesperança identificada e a fraca rede de apoio estavam colaborando para que ela pensasse em suicídio como uma possível saída para sua dor." Após a aplicação do protocolo de luto com enfoque na Terapia Cognitivo-Comportamental, que durou 14 sessões, houve significativa melhora na interpretação da paciente a respeito da morte do filho. Ela demonstrou maior capacidade de reavaliação das interpretações, que passaram a ser mais funcionais, refletindo em emoções positivas. Por fim, a paciente também demonstrou capacidade para desenvolver estratégias de enfrentamento da saudade do filho e para lidar com problemas diários, tendo uma reinserção social positiva.
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Considerando o luto normal uma resposta saudável à perda, conforme Parkles (1988) apud Zwielewski e Sant’Ana (2016). Quais características do relato da paciente R. o tornam um caso de luto potencialmente complicado e com necessidade de intervenção profissional?
A paciente manifesta verbalizações repetidas de muita dor e afirmações de pedidos de socorro para conseguir aliviar os sentimentos vinculados ao luto. Demonstra se sentir culpada com relação à morte do filho e que era emocionalmente dependente dele, além do fato de que o sofrimento intenso, a alta desesperança identificada e a fraca rede de apoio estavam colaborando para que ela pensasse em suicídio como uma possível saída. R também se encontrava sem pessoas com as quais pudesse compartilhar sua dor.
A paciente apresentava muitas queixas físicas como sensação de despersonalização, aperto no peito, fraqueza muscular, vazio no estômago, nó na garganta, boca seca e sensibilidade ao barulho. Além disso, o tempo de luto é considerado prolongado, por isso já pode ser patológico.
Como a morte do filho foi repentina e inesperada, R. não conseguia acreditar no que aconteceu e afirmava estar ouvindo o filho em alguns momentos, andando pela casa. R. “Tinha a impressão de vê-lo”. As alucinações da paciente são um indicativo de luto complicado.
R. tinha muita raiva do filho, pois se sentia abandonada e desamparada por ele. Embora percebesse que eram sem sentido e ilógicos, a paciente estava assustada e não compreendia seus sentimentos, o que dificultava que ela seguisse adiante com suas demandas pessoais. Além disso, R. não compartilhava com ninguém o que sentia, pois ficava constrangida e tinha receio do julgamento e da crítica de familiares e amigos.
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Como foi discutido no primeiro encontro, existem alguns tipos diferentes de luto de acordo com características específicas de cada caso. No relato da paciente R., se pudéssemos classificar o tipo de luto, qual das opções apresentadas possui maior proximidade com o caso?
LUTO CRÔNICO: os sintomas do luto podem permanecer presentes ao longo de anos e acabam sendo incorporados à vida cotidiana do sujeito com grande desgaste para a pessoa. O enlutado consegue identificar claramente que os sintomas têm relação direta com a perda, assim como sua dificuldade em superar essa perda por conta própria
LUTO MASCARADO: a presença de sintomas físicos costuma ser mais frequente, assim como de comportamento ou padrões de pensamentos que não são parte do padrão usual do sujeito. Geralmente o paciente não relaciona os sintomas à perda e é pouco frequente que procure auxílio psicológico ou psiquiátrico para a elaboração do luto. Esse paciente costuma chegar ao profissional de saúde mental por caminhos indiretos.
LUTO ADIADO também denominado como “luto inibido” ou “luto postergado”, algumas reações típicas do enlutamento podem se manifestar no período imediatamente posterior à perda, porém, de modo insuficiente para o fechamento do processo do luto. Nesse caso, os sintomas relativos ao luto podem aparecer em momentos futuros da vida do sujeito e, devido ao tempo passado desde a perda, nem sempre são claramente reconhecidos em sua relação com a situação, o que pode dificultar o diagnóstico.
LUTO ANTECIPATÓRIO: marcado por ter seu início antes que a morte aconteça. É observado com frequência em familiares e cuidadores de pacientes de adoecimento crônico em fase terminal. Nesse tipo de luto, um grande diferencial é o tempo para despedida e a possibilidade de ensaios de papéis prevendo as alterações na dinâmica familiar e social que ocorrerão após a morte.
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Quais são os principais elementos da terapia cognitivo-comportamental no tratamento do luto?
Reestruturação cognitiva e modificação de comportamentos disfuncionais
Exploração do passado e resolução de traumas
Relaxamento e técnicas de meditação
Expressão emocional livre e sem restrições
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Quais foram os resultados ou progressos observados no paciente ao longo do tratamento?
Diminuição dos sintomas de luto complicado e melhora no funcionamento psicossocial.
Aumento da expressão emocional e descarga de sentimentos reprimidos
Aceitação total da perda e ausência de qualquer sofrimento contínuo.
Adoção de comportamentos de risco e comportamentos autodestrutivos.
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A avaliação inicial evidenciou que a paciente sentia culpa com relação à morte do filho e que era emocionalmente dependente dele, além do fato de que o sofrimento intenso, a alta desesperança identificada e a fraca rede de apoio estavam colaborando para que ela pensasse em suicídio como uma possível saída para sua dor.” (p.30) Acerca da psicopatologia, da temática do luto e do suicídio e de demandas específicas de intervenções psicológicas, assinale a opção correta.
Questões culturais e religiosas devem ser consideradas para fins diagnósticos, de intervenção e manejo do luto.
O luto é um fenômeno complexo psicopatológico que exige intervenções psicoterápicas e, em muitos casos, ações medicamentosas.
Luto traumático, ou transtorno de estresse pós-traumático, refere-se a uma síndrome específica de luto complicado.
A evitação da temática da morte e o aumento do comprometimento com o trabalho são estratégias positivas no enfrentamento do luto por suicídio.
Constituem fatores de proteção para o suicídio ser do gênero masculino, ser casado e ter filhos.